quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Procurando á Porta


Procurando á Porta

Procurei a noite toda uma porta. Não era só minha. Era a nossa porta. Sintetizava tudo o que eu queria naquela noite coruscada de estrelas. A porta! .E onde encontra – lá? Mais tarde descobri que está no altíssimo de um morro da minha cidadezinha. Mas qual é este morro? Tantos são os morros e também nunca me interessei subir rumo ao altíssimo de um morro.Afinal me falta tudo! Até preparo físico.

Fui caminhando procurando este morro! Acho que caminhar perdidamente é mais difícil que procurar uma porta. Eu queria mudar de porta .E mudar de porta precisa tanto de esforço.

Nunca havia olhado para cima, como olhava aquele instante. Passou a chover. Mas continuei a olhar para cima. Na rua não havia sarjetas e sim regos por onde a enxurrada cachoeirava em muitos pontos, fazendo um barulho gostoso, era o cachoar das águas.

De hora pra outra vi uma luzinha, bem no alto do morro. Parei. Olhei. Observei. Era uma igreja. Gozado! Nunca havia visto aquela Igreja. Não sei de qual religião. Como andei desapercebido da vida esses anos todos. Sei que para chegar até lá é preciso vencer uma subida íngreme, de uma rua torta.

Olhe – a .Só de olhar aquela rua íngreme e torta já me sinto cansado.Como é dizer dos poetas – “ Cansar pelos olhos “

Dei o primeiro passo. Ainda caia alguns pingos de chuva. Senti – me patinar na água barrenta. Ouvi um grugulejar no contato de meus pés com o barro.

À medida que ia subindo, vi que a rua serpenteia o morro, como um rio em meio a uma selva. Subi um pouco mais. Consegui enxergar um pedacinho da lua. E alua a partir daquele ponto passou a ser a minha bússola.

A noite voltou a ficar pontilhadas de estrelas! O luar se fez aos céus da noite e alumiou a rua torta. Vi que havia muitas pedras e muitos espinhos.O morro tem também muitas penumbras das árvores. Cheias de mistérios .Mistérios que não se explicam por eles mesmos.

Nuvens que passam e encobrem o plumbleo céu. De um lado ou de outro se vê nesgas de céu estrelado. Os insetos siciam por entre as luzes dos candelabros. A coruja protogoniza mais um vôo e dá mais um pio. Enquanto um velho deixa - se ter preguiçosamente numa rede. E ele me perguntou.

- Onde vai rapaz?

- Vou indo, procurando a minha porta

- E lá em cima têm duas portas

- E, eu sabia que existiam essas portas. Mas eu quero uma só, meu amigo

- Lá você escolhe – respondeu o velho, acendendo o seu cigarro de palha.

Olhei mais uma vez para o lado. Vi a lua alumiar cada vez mais. E parece crescer, talvez, porque me aproximo daquela bola de prata .

Um bêbado decadente passou por mim. Vejo também um casal de namorado se abraçar debaixo das penumbras de uma árvore; vi também uma invulgar figura de mulher A janela de uma casinha. Outras janelas. Pareciam me chamar; porém, olho para cima e já vejo a Igrejinha por inteira .

Quando mais aproximo , mais a lua cresce, mais a Igrejinha se torna uma igreja.

Instantes depois, cheguei!

Olhei para baixo e vi a minha cedadezinha com as suas luzinhas tremeluzentes. Virei o rosto e vi a Igreja e a lua que parecia balouçar. Andei mais um pouco e ouvi um som de violino. O som tornou – se um rastro agradável. Fui caminhando seguindo o imã do som. Até que fiquei de frente da Igreja. Havia uma porta de cada lado da igreja . Mas atraído pelo som do violino escolhi a porta. É uma porta estreita. Lá dentro vi uma bela moça, tocando o violino.

Ela me olhou e disse – me

- Até que enfim você veio!

- Maria , é você

- Sim , em carne e osso.

- Por que você sumiu por todos esse tempo?

- Não sumi, é impressão sua.

- Impressão?

- Sim! Todo esse tempo você habitou em outra porta. Vá lá fora e veja.

- Eu fui e observei tudo e voltei.

A lua já na era tão grande e nem a rua torta. Ao retornar disse:

- Estranho, parece que eu sai daquela porta e nem notei; pois, em verdade subi foi um morro que me faz transpirar em bicas.

- É assim mesmo! Quem sai da porta larga e volta à porta estreita, parece subir aos céus.

Do Editor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário