quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Depressão á beira mar

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Numa pequena cidade de um longínquo país um homem caminhava pelas ruas. Estava com o coração angustiado. Uma tristeza cortava – lhe o coração. Apesar da beleza do lugar, do carinho da família, do dinheiro que possuía, dos bens materiais que conseguiu com o seu esforço no trabalho, vivia mergulhado um estado depressivo da alma.

Caminhava o homem rumo á praia. Seguia com os seus passos cambaleantes como se tivesse bêbado ou muito exausto. Sua mente desgostosa estava um torvelinho de pensamentos negativos e destrutivos.

E naquele país, no mês de março as noites chegavam mais cedo em meio a uma friagem fina e seca e rapidamente vinha uma escuridão aparatosa.

E nesse ambiente surge o homem cambaleando e subindo os rochedos que vizinhavam com as águas do mar, teve que fazer um esforço inaudito para chegar ao cume daquela montanha de rochas.

Chegou cansado, ofegante e apesar do frio e por causa de seu esforço o suor principiava sair pelos poros da pele.

Cada vez mais a sua mente comungava com o torvelinho de idéias desastrosas e lá do alto passou a ver o mar iluminado pelo pálido clarão do luar, e desse luar via – se também as alvuras das praias.

E o homem no cume do rochedo, com um olhar de doente, arrasado pelos sinais de energia negativas, veio – lhe á mente as imagens das noites quando ele e os amigos nobres se festejavam uns aos outros, noites distantes, perfumosas.

Veio – lhe a mente a sua mãe, o seu pai. Ambos distantes no tempo.

Veio - lhe a mente as conquista do trabalho, os amigos também do trabalho.

Veio – lhe a mente a sua mulher, o seu coração passou a bater descompasssadamente,;veio – lhe a mente os seus filhos e o sangue fluía quente nas artérias.

Ele, ali sentado no cume de um rochedo com todos aqueles pensamentos apimentados pela angustia, um aperto no peito, envolto no silêncio preenchido pelo murmúrio do mar, do vai-e-vem das ondas.

A angustia oprimia – lhe cada vez mais e a vontade de pular lá do cume para o último mergulho.

- Quem sabe eu pulando eu ponho fim em tudo isso – disse para si.

Ele pensou em pular. Toda vez que ameaçava pular olhava para as estrelas, que brilhavam com grande fulgor. Brilhos e mais brilhos intensos tão distantes e impassíveis na noite misteriosa.

- Eu sei que vou deixar todos e tudo. Não agüento mais o que sinto. Não sei de onde vem tanta tristeza, tanta agonia – mais uma vez falou consigo.

Toda aquela tristeza emoldurada por uma noite luminosa e serena. As estrelas coruscando os céus. As árvores ao longe formavam na orla da praia doces penumbras.

Nem toda beleza natural noturna daquela praia espantava a angustia e a tristeza daquele homem.

E lá longe surgiu um navio sincrando as águas, ia abrindo um longo sulco que se prateava pela luz do luar.

O navio tinha um forte luzeiro que ia alumiando á lua frente formando um contraste entre dourado nas águas da luz artificial e o prateado da luz lunar.

E naquele instante o homem no cume do rochedo passou a acompanhar com os olhos aquele cruzeiro, de tão forte luz.

O navio sincrava rapidamente. E ele perscrutava com os olhos.

Era um navio que transportava foragidos de uma guerra que acontecia num país vizinho. A guerra já arrastava anos e não havia soluções á vista.

O navio foi se aproximando da praia. A luz era tão forte que atraiu muita gente a espera da embarcação que se aproximava até que o barco ancorou na areia.

Começaram a sair às pessoas da embarcação.

Muitas daquelas pessoas precisam de ajuda para caminhar, outras estavam mutiladas, outras pessoas precisavam de macas. O homem que estava no cume do rochedo vendo aquilo tudo, desceu com uma ligeireza impressionante.Quando faltavam três metros da areia, ele deu um salto e pisou firme e seguiu correndo. Ao chegar perto da embarcação, perguntou:

- Precisam de ajuda?

Um homem vestido de branco respondeu – lhe.

- Sim, ajude a colocar esse homem na ambulância.

Um outro, disse:

- Segure essa maca

Um outro, falou:

- Segure essa caixa de medicamentos.

Um outro homem disse:

-Ampare aquele senhor até a ambulância voltar.

Um outro homem disse:

- Entre na ambulância e segure o doente até o hospital.

Aquela operação de socorro foi até ao amanhecer, e o homem do rochedo ao voltar para casa sentia – se com o espírito aliviado, sem a tristeza e a angustia no coração. No dia seguinte voltou ao hospital e mais uma vez lançou seus préstimos aos doentes, quando se viu já estava engajado nas campanhas de paz do pais e nunca mais pensou em voltar ao rochedo.

Nel Ramos Pereira

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