segunda-feira, 6 de setembro de 2010

A Folclórica Ituverava ( Agosto o mês do folclore)



Houve tempo em que a cidade era menor. Isto é lógico. Ela principiou a dar uma espichada no início da década de 1980. Entretanto, mesmo assim, não foi com tanta volúpia. Logo, porém, quem passou algum tempo do passado longínquo por aqui, é provável que não esqueceu certas pessoas, ou tipo populares que enriqueceram o cenário urbano do dia-a-dia a entreter a população em folguedos inocentes.

São pessoas que nunca fizeram mal a ninguém, apenas enriqueceram o folclore da cidade. Apesar de portadoras de alguma deficiência mental.

Manuel Lázaro Pereira escreveu um artigo sobre o Zeca Bumbeiro, uma figura tipicamente folclórica dos anos 1930 e 40. “Baixinho, magro, meio curvado ao andar, estava limpo de corpo e roupa, só quando, enfiado em sua farda azul, marcava com o seu bumbo compasso na banda de música da cidade. O seu tipo quando fardado, era alegria da criançada que acompanhava a banda”, diz Manuel Lázaro.

Assim, propriamente, era o Zeca Bumbeiro.

Chiquinho verdureiro foi outra figura interessante que passou por Ituverava nessas mesmas décadas: o Chiquinho Verdureiro de pouco mais de um metro e trinta centímetros de altura, magro, com calças arregaçadas até o joelho, fumava cachimbo cuja piteira tinha seguramente quarenta centímetros ou mais e dizia que a piteira do cachimbo que na realidade era um imenso canudo, era daquele tamanho, para esfriar a fumaça.

Outras figuras marcaram o dia-a-dia ituveravense ao longo dos anos. É possível, com isso, promover lembranças saudáveis.

Remontar o cenário produzido por um João Muié, figura das mais engraçadas que animou as ruas da cidade nos anos 60, é reservar Ituverava com carinho ilustrada de muita comédia. A meninada dizia: “João Muié, João Muié, toma pinga de cuié!”

À esquina, porém, a uma certa distância, parecia ser o mais elegante do mundo. A quem ele se aproximava, notava o seu paletó branco, - mesmo debaixo do intenso calor, - que estampava a umidade e o cheiro de cachaça. Ele era quieto, quase não falava.

Em qualquer bar que ele entrasse, o proprietário, na ânsia de vê-lo longe dali, prontamente lhe servia uma “branquinha”. Sem cobrar nem um tostão.

A aguardente, ao ser levada pelas suas mãos trêmulas à sua boca, obedecia ao seu desejo: escorregava, queimando a goela abaixo. Tornava-se uma verdadeira careta babada, levando mal-cheiro e umidade ao seu paletó encardido.

Aonde passava era motivo de chacota por parte da criançada. Algumas delas carregavam algum medo, ao vê-lo.

Tipo popular, ou não, a verdade, é que eles ofereciam uma admiração.

Ao longo dos anos surgiu “Machadinho”. Sempre marchando pelas ruas da cidade. Costumava dividir o espaço da rua que caminhava, com os automóveis que viessem pela frente. A preferencial tinha que ser dele. Os automotores é que esperassem, ou desviassem. Parecia desempenhar um papel no palco da vida.

Este é o perfil claro de Machadinho, não raro, provocava delírio na garotada.

Era interessante reparar as suas mãos, justapostas, o balançar em sinal constante. O vaivém lembrava a figura de um machado. Era como se vivesse alavancando uma machadada na cabeça de alguém. Era uma imagem circense.

Pouco a pouco, porém, o tempo foi passando. Embora lamentável é a insanidade dessas pessoas que, vez ou outra sugeria arriscar que fosse uma missão, ou expiação que por ordens superiores dos céus estariam condenadas por algum tempo a viverem de forma mais cômica possível.

Entretanto, ainda, em puras e singelas observações, é tudo digno de cuidados, apesar do espetáculo à parte, que ficaram guardadas na memória de muitos, no carrossel dos tempos e, graças a Deus, hoje há instituições de caridade que cuidam de pessoas com problemas mentais.

Essas imagens do cotidiano popular sempre serviram à imaginação dos grandes escritores.

Em que a rua é o grande palco da vida, um tormento para alguns, uma inspiração para outros. E, por sua vez, uma doce criatura que vendia picolés por nossas ruas. Era tão engraçada que não haveria necessidade de algum escritor fazer adaptações, caso a inspirasse como personagem.

À sua alma havia adaptado à força de sua resignação. Era a Luzia Picolezeira. Acima de seu garbo, carregava sempre um rádio de pilha, e bem grande. E com o aparelho ligado, sempre no gênero de música caipira, e tudo isto misturava com a graciez de seu tipo.

Luzia Picolezeira era uma senhora engraçada e agradável, passarelava pelas ruas na década de 80. O tempo leva todos inominavelmente. Só ficam as lembranças que o tempo faz questão de ir apagando.

Claro, tudo vai mudando: a memória, a forma de raciocínio, mas às imagens sempre ficam.

E assim: o Cebolão, outra figura típica da década de 1960. Ele usava uns óculos escuros que parecia um manto cobrindo o seu rosto.

Postava um paletó meio encardido, porém, consubstanciava uma goma arábica, tanto no jaleco, quanto na calça de linho.

Arrancava alguma gozeira de algum garoto, porém, não perdia a classe; tornou -se uma lendária figura para uma época.

Joana Baiana também costurou seus passos pelas ruas da cidade, vestindo-se sempre à caráter. Dançando e dançando, sempre pedindo algum dinheiro para tomar coca-cola. Não conseguia expressar corretamente a palavra que designava o nome do refrigerante. Era “Cota-Crola” que dizia.

Zeca Bumbeiro, Machadinho, João Muié, Luzia Picolezeira, Cebolão e Joana Baiana eram diferentes em tudo que hoje fazem falta: mas ainda temos destas pessoas engraçadas.

Às vezes, neste início de século XXI, quando estamos pela avenida Dr. Soares absorto em problemas pessoais, no silêncio dos pensamentos e tão longínquos e presos ao que temos pela frente, e de repente, deparamo-nos com um cutucão de uma senhora, acompanhada de uma clássica pergunta que já se fez ressoar em outros ouvidos de qualquer ituveravense: “Tio, me dá um real”.

Há nesta pergunta, uma dose de desespero de quem nada pode. E alguma coisa que temos de coração, é que nos faz levar a alguma reflexão: o que devemos pensar, ou fazer, neste caso. Aquela senhora já se transformou em figura do cotidiano. Não há quem a estranhe.

De quando em quando, ela some, porém, volta tão feiosa e maltrapilha, como sempre foi. Todavia, seria o estado de espírito dela, que se deixa mergulhar numa situação que parece ser de insanidade, e virou a “Tio, me dá um real” para a meninada e sempre lança um ar de folguedo, pois insistentemente diz - “Tio, me dá um real”. A quem é perguntado, quando responde: “Não tenho”, ela ainda diz: “Mas nem 50 centavos?”.

São homens e mulheres que se fizeram folclóricas, com certeza carregaram nesta vida os vícios da alma, apenas os materiais pelas circunstâncias que o destino os reservou. Mas houve uma ruptura, espiritualmente transportaram muitas barreiras, reformando a potência interior da resignação. Em figuras típicas e folclóricas removeram muitos séculos em apenas uns anos, pelo menos alguma crença assim acredita.

No entanto, muitas outras figuras curiosas percorreram as nossas ruas marcando épocas e levando uma expressão de saudade e de fixação.

Não podemos esquecer do Zé Capeta. É bem verdade que toda cidade tem o seu, mas o nosso era um bêbado amoroso, que se habituou freqüentar todos os velórios, e até dava conselhos na hora mais difícil do sepultamento do ente querido.

O Magiclick, um andarilho que costumava dormir na rodoviária, em todos os lugares que freqüentava costumava se sentar ao chão, fazendo gracejos para as crianças.

O famoso Tibita caminhou pelas ruas de Ituverava pelas décadas de 1.970 e 80 gostava de falar em tom bem alto, o que acontecia de ruim com os poderosos da cidade, principalmente dos políticos. Proclamava os prefeitos de Odorico Paraguaçu, em alusão ao seriado O Bem Amado, de Dias Gomes,

interprentado pela Rede Globo, em que o autor Paulo Gracindo representava o prefeito folclórico de uma pequena cidade da Bahia.

Osorão foi outra figura, em verdade um andarilho na década de 70, tinha muita dificuldade para sobreviver, devido ao seu aspecto sombrio, mas sempre vivendo de esmola. As pessoas tinham medo de aproximar dele porque julgavam-no leproso. Porém, o povo o ajudava.

Tio Pedro, um santo andarilho, tem um túmulo no cemitério municipal, como o mais visitado. Foi um homem muito doente que viveu nas décadas de 30 até 1970 pelas ruas empoeiradas da cidade. Segundo a tradição, seguia, com a imagem de um santo à mão, pois a sua fé, era devido à hanseníase, a lepra. Vivia da esmola e todas as pessoas viam a fé com que lutara contra sua doença.

Tem-se o túmulo mais visitado, porque de tal motivo muitas pessoas atribuíram receber graças, depois de ter feito pedidos a alma de tio Pedro.

Mas, um muito engraçado, o Apaixonado que faleceu por volta de 1.983, figura conhecidíssima dos freqüentadores de bares e botequins, morreu bem protegido na cadeia pública, um meio que acharam as autoridades de dar-lhe amparo e conforto.

Por muito tempo viveu também na Santa Casa, mas quando bebia, as freiras não conseguiam segurá-lo lá apesar de não ser violento só queria bares e botequins e cantar suas poesias de modo muito engraçado.

Outras figuras típicas de Ituverava eram os bilheteiros cegos.

- Vaca, cachorro, porco, macaco, gritava o bilheteiro, com a bengalinha na mão batendo aqui e ali, para abrir caminho.

Era a esperança da sorte para muitos.

O Dim mais outro tipo folclórico que viveu algum tempo pelas praças e logradouros, quando alguém dizia a ele:

- Dim, vou matar o seu porco. Aí, Dim caia no choro como uma criança, e ele respondia: - Não mata meu porco não.

O curioso e engraçado é que ele não tinha porco nenhum, não tinha nem casa para morar.

Houve por bem lembrar dos engraxates, aquelas crianças de 7 anos até 15 anos de idade que passavam dias e mais dias na praça X de Março, com uma caixa de madeira, onde havia graxa e um pedaço de pano, para engraxar o sapato de quem queria mantê-los limpos.

Aí senhor, vai uma engraxadinha aí dizia o menino, ou os vários meninos que trabalhavam neste serviço.

Hoje, a Constituição não permite menores de 16 anos trabalharem conforme a lei, só se admite acima de 14 anos, como aprendiz.

Diga-se ainda, engraçadíssimo era o Noca Pipoca Queimada que perambulava pelas ruas também perdido. A criançada dizia a ele, - o Noca Pipoca, ele nada respondia, mas a criançada reiterava, - o Noca Pipoca Queimada, aí o Noca virava um bicho por cima da molecada.

Para tanto, é bom lembrar do Baiano da Caixa, é outro que vivia engraçando pelas ruas da cidade.Vivia a bater, com um pedaço de pau, uma caixa de papelão, como se fosse tambor. Também, era freqüentador assíduo dos velórios onde na hora mais difícil da família enlutada pregava os seus conselhos.

Também Ituverava é uma cidade misteriosa, não se sabe se é lenda ou realidade, mas pelas bandas do Clube das Acácias, conta a tradição que um tarado por ali rondou por muito tempo, atacando mulheres e meninas. E ninguém se arriscava a se fazer por aquelas ruas depois das 8 horas da noite. E ficou a lenda: “cuidado com o Boca-Tarado”, para quem saia de casa à noite.

É mister dizer que, como toda a cidade, hoje, Ituverava tem de suas chacrinhas escondidas por aí; mas não é como no passado, quando as mulheres tornavam-se lendárias e folclóricas.

Quem não se lembra de Alicatinho, da beleza da Marta, toda perfumada; a Marlene, a famosa Marlene, campeão de todas as noites, a preferida e de mil amantes. E ainda do Cazuza, do Quim Soldador, este entrando e saindo das casas de meretrício, como se fosse o coronel da zona.

Mas as coisas não eram tão fáceis assim para a moçada. No final de semana, qual jovem em tenra idade, após filmes dos Cines Regina e Rosário não dava uma passadinha pelas empoeiradas ruas daquele bairro? E quando, de repente, por lá aparecia o velho Tonhão, o delegado Dr. Antônio Chaves Martins Fontes, que deixou suas marcas na cidade.

Costumava ele chegar lá pelas tantas da madrugada, para espantar a moçada das casas, e dizia: “Eu vou contar até dez, se alguém, depois disso, ficar por aqui vai ser preso”, avisa o Tonhão. Tonhão contava assim, ao lado do investigador Fábio de Souza: “Um, dois, três, quatro, ..., dez”, quando ele abria os olhos, não havia nem mais um moço na casa do meretrício. Zarpavam, como uma silvada bala. Saia gente até pela janela.

Esses personagens tornaram-se folclóricos e são os seus casos e nomes passados de geração em geração.

Os tipos populares, enfim sempre estiveram presentes em nossas ruas, antigamente em maior numero. Hoje, com a cidade bem maior não vemos tantos zanzando por aí. Em verdade isso é bom, é sinal que a sociedade está cuidando melhor dessas pessoas de má sorte. É sinal que a população ituveravense trilhou os caminhos da caridade ao longo dos anos, sobremodo, um caminho excelente. Entretanto, para o mundo, alguém vem com certa deficiência, mas tenho certeza de que Deus abençoa estas provas em favor de alguma coisa.

Por sua vez, outra pessoa lendária que passou por Ituverava, o ex-escravo Antônio Cordeiro, que após 100 anos de vida faleceu no Hospital Beneficente São Francisco de Assis, em 1947. Na foto da revista Comarca de Ituverava, de 1948, é mostrado fumando cachimbo, por onde afirmou ter participado da

Guerra do Paraguai (11 de novembro de 1864 até 1o de março de 1870), e ao morar em Santos, litoral paulista, garantiu ter visto o Imperador D. Pedro II.

Zé Domingos, morador do Largo do Rosário, na década de 1.960. Carpinteiro andava com a enxada nas costas, mas ficou famoso no meio da garotada, tinha o habito de mostrar o seu membro sexual bem dotado, o que causava muita brincadeira entre os meninos.

E, ele, finalmente, Nadinho príncipe soberano do reino, do Café Music. Foi coroado rei no inicio dos anos 90.