terça-feira, 16 de março de 2010


Assombração da Escola Justino
(Conto)
Certa manhã de outubro,
com o sol estalando o maior
calor, com a primavera
florindo os jardins da cidade,
esver-deando os campos
e os pastos, que muito
facil-mente, as nossas vistas
alcançam. Afinal,
Ituverava nunca foi tão grande
assim, que um mar de
casas pudesse forrar o horizonte,
tomando o infinito
azul atmosférico.
Corria o ano de 1975,
que já anda sem rastro e
memória. Os jovens alunos
seguiam para mais um dia
de aula no Instituto de Educação
Capitão Antônio
Justino Falleiros. Eles entravam
alegres, salientes,
cujos rostos refletiam as
mais angelicais expressões;
porém, alguns lembravam
alguns capetinhas,
ou coisas do outro mundo.
A suavidade dos olhares
trocados cravados em algumas
paixões de adolescente,
eram as sombras de
desejo, de muitos dos jovens,
que à espera de sua
suave casualidade pudessem
fomentar algum namoro.
Jovens que entravam e
iam, se acomodando, pelas
salas de aula, pelas cadeiras
em desalinho à espera
do professor, enquanto outros
mais displicentes, ainda
conversavam, no pátio
da escola, debaixo de algumas
árvores que serviam de
pouso de muitas aves, que
descansavam do revoluteamento
nos céus ituveravenses.
Entre o dominante espírito
da conversa nos tolerantes
minutos finais que
antecedia a primeira aula,
só se falava o que acontecia
no período da noite, do
tradicional colégio
ituveravense. Isso no piso
superior. Diziam que bruxuleava
alguma coisa. E era
um fantasma que por ali surgia.
Pois bem, havia alguma
aluna do noturno, que jurava
ter visto no banheiro feminino,
próximo à biblioteca
da escola, um vulto de
uma mulher de roupa branca,
exibindo um
abundantíssimo e revoltoso
cabelo; mas, apenas por
alguns minutos a cena se
revelava célere à frente de
Isolda Lima, a tal estudante.
Esse era o vislumbroso
comentário no período da
tarde.
Um comentário como por
via telefone sem fio, uníssono
por grande número de
alunos.
Ainda, porém, os alunos
diziam que uma corrente
eflúvia corria o
corredor, levando o medo
aos serventes que assomavam
o dever de fechar todas
as portas e janelas do piso
superior do colégio. E, todavia,
passou a infundir um
ambiente envolto de curiosidades
entre aqueles que
faziam os comentários.
Algum aluno ainda falava
que aquela assombrosa
mulher reunia em torno de
si todos os temerosos místicos
feitiços.
Eles conversavam, mas
não acreditavam, com muita
certeza.
Eram fúnebres boatos,
que transformavam se em
montanhas de medo, entre
alguns alunos, funcionários
e professores de todos os
turnos.
Durante as aulas, estes alunos
mantinham abertos livros
de português, matemática,
história...
Entretanto, imaginações
povoavam os pensamentos.
Da turma do diurno, no
dia seguinte, depois de uma
pálida noite, o estudante
Joel Negreiro sentia arder
o desejo de saber o que
enuviava o seu coração, e
por esse meio nem pestanejou,
partiu com algum
companheiro pela noite,
para saber o que realmente
estava acontecendo no
piso superior do Antônio
Justino Falleiros. Ainda que,
a lua traçasse o seu destino
no céu, bem cheia, no
esplendor de sua baça luz
prateada, iluminou os dois
jovens ao entrarem no colégio.
Correram os minutos, e
uma hora somente.
Surgiram das portas das
salas de aula dezenas, centenas,
um milhar de alunos
pelo pátio.
Nada... ninguém comentou
o caso.
Será que seriam germinações
de suas imaginações?
No entanto, subiram as
escadas. Logo, do lado esquerdo,
o banheiro das
moças. De lá saiu uma aluna.
Muito absoluta e definida.
Numa reação normal.
Nada de extraordinário, que
pudesse justificar os comentários
de Isolda.
Perceberam, além disso,
alguns rumores... Às vezes
se ouvia alguma coisa...
Era um tom filosófico, o que
se discutia. Eram dois alunos
na primeira sala de aula
do corredor.
Era um papo sobre alguma
existência futura. Boa conversa
para uma sexta-feira.
Algo sobre a vida... a morte...
a alma... Os alunos do
diurno sentiam no ar, a atmosfera
de um doce mistério,
ao ouvirem a conversa.
Do ar exalou um doce perfume.
Um agradabilíssimo
cheiro, que a natureza extraia
da planta “dama da
noite”, que penetrava pela
janela da biblioteca, lembrando
o cheiro cálido e
afável de qualquer bosque
envolto em mistérios.
Tocou o sinal. Fim de intervalo.
Os alunos do diurno,
ainda, caminhavam pelo
piso superior do colégio a
fim de desvendar o mistério
da espectrosa moça.
Curiosamente, nem os alunos,
tampouco professores
e serventes retornaram. Os
alunos da “tarde” pensaram...
Será porque é Sexta-
feira. Aqueles jovens que
conversavam na primeira
sala, ao lado das escadas,
também desceram em direção
ao pátio.
Da janela da sala de aula,
percebia-se que uma espessa
neblina cobria a lua,
onublando o tom prateado
da bola do céu.
Os jovens se tocaram. Estavam
a sós, no piso superior.
O vozerio vindo do pátio
tornava o ambiente
murmuroso, mas medonho.
Assim, porém o clima de
apreensão invadia o ambiente
no momento que seguiram
em direção à escada,
quando de repente foram
surpreendidos.
- Nossa!...- exclamou um
dos jovens, olhando para o
lado do banheiro, de uma
maneira indefinível.
- Credo!...- disse o outro,
com uma voz rouquida
embargada como quem
parece agonizar.
Do banheiro feminino surgiu
o espectro de uma
moça de roupa branca.
Eles mal acreditavam através
do tremor e do espanto.
Era ela, assombrosamente.
Um rosto que guardava
uma palidez, lividamente
profundo, encerrando
melancólicos olhos negros,
cravados em meio a
uma vermelhidão espantosa.
Oh!...lamentos angustiosos
daqueles jovens
que se sentiram perdidos.
Aqueles olhares aflitos,
ora baixavam, ora levantavam,
pareciam as pupilas
acompanharem os corações
dos meninos em batidas
saltitantes. Tremiam, e
não conseguiam ensaiar
sequer uma única palavra.
Pareciam que encontraram,
o que procuravam,
olharam-se. Estremeceram
de terror, e fizeram um angustiante
esforço para se
manterem em pé.
O que pensavam os jovens?...
Que imaginavam!... aqueles
momentos entre roucas
exclamações.
Porém tudo foi tão rápido...
Tudo se acabou como
uma explosão de bolha de
sabão.
Ao findar da cena desceram
as escadas e
rumaram-se, silvadamente,
e depararam, logo a seguir,
com os professores no hall
da porta da entrada do colégio,
levantavam murmúrios
afáveis e descontraídos,
sem se atinarem pelo que
aconteceu havia poucos
minutos.
Os jovens voltaram a contemplar
pela imaginação o
que viram, no andar superior,
enquanto observavam os
alunos, que pouco a pouco
deixavam o colégio. Ao longe,
ouviam-se os remotos
clamores de alegria. Era
sexta-feira, afinal.
Subitamente, Joel, já no
pátio, perguntou a um aluno
do noturno, que caminhava
em direção ao portão, com
livros e cadernos à tira-colo:
- Por que todos estão indo
embora?
-Hoje é sexta-feira de lua
cheia. Todas às vezes que
acontece esta coincidência,
o diretor dispensa a gente,
respondeu o aluno do noturno.
Os dois alunos do diurno,
pela experiência que passaram
havia poucos instantes,
entenderam a atitude
do diretor da escola.
Do Editor
(continuação)