segunda-feira, 2 de julho de 2012

O Cine Regina coincidiu com o “Cinema Novo” 





 As coisas chegam, ficam e desaparecem. E esse tempo que permanece entre nós é cheio de significados. E essas relações de significância precisam ser estudadas. E uma dessas coisas é o Cine Regina que foi construído em 1957, na Praça X de Março onde funcionaram as suas atividades cinematográficas até 1982, no mesmo local onde hoje está a Igreja Universal.
   O Cine Regina é bem provável que foi o quinto cinema Ituveravense (Odeon,Éden,Santa Cecília. Rosário/ Bristol )e , temos o sexto que é atual em funcionamento : O Cine Teatro Ituverava que exibe fitas desde 1999.
       O Curioso da inauguração do Cine Regina em 1957 é que coincidi com a chegada do Cinema Novo, denominação dada pelos historiadores a produção dos filmes brasileiros. O Período em que o país passa a produzir filmes em escola industrial, após o fechamento da antiga produtora Vera Cruz. É o período do início da migração do povo da zona rural para a zona urbana.
      O primeiro filme dessa nova fase é o famoso “Rio, 40 graus”, do Cineastra Nelson Pereira dos Santos que de acordo com os críticos “é uma mistura de drama, comédia, melodrama e chanchada , com interpolações  musicais, contando várias estórias intercaladas uma das outras, e tendo com ponto de referência os meninos miseráveis que descem dos morros do Rio para o centro da cidade, para vender amendoim torrado”.Um outro filme famoso “Terra em Transe”  com o ator Paulo Autram, do cineastra Glauber Rocha..
      Ituverava já possuía o Cine Rosário desde 1928 com capacidade para 900 poltronas, o Cine Regina em 1957 chegava com 700 poltronas. É inacreditável ! “Ituverava” uma pequena cidade com menos de 15 mil habitantes na época, possuía 1.600 lugares de assento em salas cinematográficas, que no final de semana se transformava em 3.200 lugares, ou até 5.200 lugares com a matineê de domingo à tarde.
        Ituverava já estava inserida no mundo. O cinema surgiu bem antes da televisão e nos anos de 1950, com a migração inicial do homem do campo para cidade, com a industrialização crescente e a necessidade do conhecimento, o cinema transformou – se num veículo importante de cultura que visava à transformação. A televisão já existia. Era cara e poucos a possuíam, e o cinema produzia a arte para as massas.
       Os Ituveravenses viveram as transformações da sétima arte pelos Cines Regina e Rosário. A literatura brasileira reproduzida para a tela, como “Vidas Secas” de Graciliano Ramos por Nelson Pereira dos Santos; “Ganga Zumba, A Grande Cidade” de Anselmo Duarte, “A Hora e a Vez de Augusto Matraca”, baseado em Triste Fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barrteto.
       O ator Armício Mazzaropi, intérprete de um dos personagens mais famosos do cinema brasileiro, o Jeca Tatu, este criação do genial Monteiro Lobato. completaria 100 anos de vida este mês. Também esteve nas telas dos cines ituveravenses até a década de 1980. Mazzaropi tratava com genialidade a vida do caipira nas grandes cidades.
      Os filmes internacionais :Bem Hur, de Charston Heston;Hamlet, de Lourence Olivier. Vieram outras fases a partir de 1970. Fitas bem comerciais: Os filmes de Kung Fu com o famoso Bruce Lee. As fitas dos Cawbóis norteamericanos. Os Clássicos, como  “Noviça Rebelde”, filme musical e vencedor de cinco Oscar’s, com Júlia Andrews “Romeu e Julieta de Sheakespeare. A fabulosa , fantástica e exótica aventura de James Bond, com Roger Moore .As fases dos filmes pornanchanchadas com Sandra Brea, Rose de Primo, Helena Ramos ,e um brasileiro famoso “Independência ou Morte” com Tarciso Meira.
       O fascinante “Memórias do Cárcere” de Graciliano Ramos levado para as telas em 1982, um dos últimos filmes a passar em Ituverava, na época dos cines Regina e Rosário .
      Uma época longe da televisão por assinatura, da internet e com o glamour da platéia da fila para comprar ingressos, dos temas músicas orquestrados da espera do filme. E, vejam que o cinema produz um capítulo importante para a história de uma cidade.

            Ituverava de Outrora: Os Palacetes




           
           Ituverava é uma cidade antiga, logo estaremos com 200 anos de existência. Em breve seremos uma cidade bi – centenária. Os historiadores tradicionais da cidade em publicações antigas, como da Revista da Comarca de Ituverava dirigida pelo fundador de O Jornal “A cidade”, Humberto França – pai do historiador e patrono de uma Escola da Cidade, Moacir França; e bisavô do medalhista Olímpico Gustavo Borges, publicou na década de 1940 belas fotos envelhecidas pelo tempo.
         Entre essas publicações estão os belos palacetes da época originados pelas riquezas das culturas do café, do algodão, e do arroz.
        Nesta edição publicamos as fotos da casa do Dr.Mário Vasconcelos, médico que faleceu em 2003. A Residência, de então, privilegia as janelas compridas e um belo arco na fachada da entrada.
      O outro palacete é do advogado Dr.Cláudio Guimarães César. Um belo sobrado numa das esquinas da Praça X de Março. Pela foto, vemos nove janelas, uma sacada no andar superior, duas colunas laterais, dois semi-arcos no alpendre.
     Hoje, devido á violência urbana as casas são dotadas de muros altos, bonitos, decorados com paisagem de jardim, mas perde o glamour das características arquitetônicas das casas, que ora ficam escondidas.
     

                            Série: Os Cinemas de Ituverava
              Cine Teatro Santa Cecília da era do cinema “mudo”




    
       Nas duas últimas edições escrevemos sobre a sétima arte em Ituverava. Na edição de abril destacamos a manchete “O Cine Regina coincidiu com o “Cinema Novo”, e na edição de maio : “O Cine Rosário, da época da Atlântida à Vera Cruz”.O Cine Regina funcionou entre 1957 a 82, o Cine Rosário de 1938 a 82, e bem antes o Cine Teatro Santa Cecília iniciou as atividades em 1926 até encerrar por volta de 1945, no mesmo local onde, hoje está a sede da Associação Atlética Ituveravense.
      Os cines Rosário e o Regina tivemos a oportunidade de conhecê – los. Já o Cine Teatro Santa Cecília construído pelo Cônego Vito Fabiani, depois propriedade de Dionizio da Fonseca, é uma data muito longínqua, assim, é mister aproveitar a crônica do Dr.Gibrahyl Miguel, médico Ituveravense que exerceu a profissão em Anápolis – Go , publicada no jornal A Tribuna de Ituverava na seção Memória Viva Idealizada pelo historiador Moacir França.
     “O Cine Santa Cecília, propriedade do Dionízio da Fonseca é parte preponderante da história de Ituverava, digna de ser mencionada. No tempo do cinema mudo, antes e durante a exibição, um conjunto musical animava e alegrava os freqüentadores, tocando as mais belas valsas da época, como “Mimi”; ”Retalhos d’alma” ,”Branca”,”Eu sonhei que tu estavas tão linda”, e tantas outras”.
     Dr.Gibrayl não menciona em seu texto, mas lemos nos Livros de Moacir França que uma das bandas que tocava no Santa Cecília era a orquestra Jazz Band dirigida pelo maestro Clínio Júlio Dépiro.
   E, continua a crônica de Gibrayl
   “Havia um intervalo durante a exibição para que o proprietário faturasse um pouco mais. Era vendido bolos, doces e sucos.
    O Santa Cecília tinha contrato exclusivo com a distribuidora Metro, companhia responsável pelos mais lindos filmes já exibidos em todas as épocas, o problema de então, é que as fitas arrebentavam paralisando as exibições e muitas vaias aconteciam, como também a platéia cobrava mais diversidades de músicas  das orquestras, durante a exibição dos filmes, se houvesse muita repetição, a vaia era sonora, portanto as orquestras tinham que ir bem ensaiadas e com repertório para duas horas “
 Mais uma vez interrompemos as citações de Gibrayl para fazermos menções da passagem do cinema mudo para o cinema sonoro. Trazer o som para á “Sétima Arte” foi um sonho antigo, que vem desde os tempos dos irmãos Lumiére, os inventores da arte cinematográfica em França.
    O cinema é filha direta da fotografia. Se entre 1890 e 1896, mais precisamente em 1885 os irmãos Lumiére resolveram de vez as questões das projeções, no entanto, um pouco antes o astrônomo francês Hervé Faye propôs o cromofotografia, ou seja, a fixação fotográfica de várias fases de um movimento e as experiências foram  se sucedendo até chegar ao cinema em movimento , daí em seguida o desejo em obter o filme sonoro.
   Charles Chaplin, símbolo do cinema mudo, foi um dos mais ferrenhos inimigos da palavra na tela de projeção, concomitantemente á sua carreira, viu surgir o cinema sonoro, isto, em 1910. Neste ano valeram às primeiras experiências práticas do som, até que em 1917 pelos norte – americanos Theodore Case e Sponable permitiu-se a amplificação do som. O problema maior foi o atraso tecnológico dos países, incluindo o Brasil, que não tinha aparelhos e técnicas para assimilar o som na tela. Foi á época em que Hollywood expandiu e impôs a sua produção. (1)
   O filme sonoro foi chegando aos poucos no Brasil e a Ituverava, Gibrayl elenca os filmes de sucesso na tela do  Santa Cecília “Nós e o Destino”, “A Esquina do Pecado”, ambas com a dupla romântica – John Bales e Irene Dune; “O Condenado” com Ronald Coliman “Expressa de Berlim, com Clive Brook e Marlene Detrick A Redimida com Freederck Mark”
    Vemos que a arte do cinema relaciona muita coisa com o mundo, desde a própria tela de projeção, do prédio até as mais curiosas histórias do mundo.

(1) Delta Larrouse

        O Cine Rosário, da época da Atlântida á Vera Cruz.




         
                      
                           
  O Cine Rosário foi construído por três irmãos libaneses: Jorge, Michel e Dib. Embora originados de um país do Oriente Médio, tinham um sobrenome bem brasileiro: Nunes .Eram os irmãos Nunes, que também foram os fundadores da rádio Cultura.
  Em 1938 foi inaugurado o Cine Rosário, onde hoje está a loja “A Calcevest” na Av.Dr.Soares de Oliveira, próximo à esquina do pecado ou coração da cidade.
  Jorge Nunes, um dos fundadores, escreveu no jornal A Tribuna de Ituverava em meados de 1978, relembrando os tempos de então, 40 anos atrás.
    “Em Janeiro de 1938 inauguramos o Cine Rosário, nome este em homenagem ao Largo Rosário onde foi fundada a cidade, com o filme “O General Morreu ao Amanhecer”, com Gary Cooper. Com os melhores aparelhamentos, poltronas especiais e prédio bem moderno, constituiu-se em o melhor cinema no interior das cidades da categoria de Ituverava. A avenida ainda não tinha asfalto e nem calçamento, e todas as tardes irrigávamos a avenida para diminuir um pouco a poeira, mas mesmo assim toda vez que passava um carro (muito raro) a rapaziada do footing tinha que parar de andar até a poeira desaparecer, e apesar destes inconvenientes, tudo era divertido e sadio”.
  Imagine! Se o Sr.Jorge Nunes, hoje, falecido, pudesse retornar á vida, veria uma avenida asfaltada, iluminada e moderna, com inúmeros carros e motos passando de um lado para outro; porém uma cidade sem cinema.
  Por outro lado, a produção de filmes no Brasil na década de 1930 se arrastava. No Rio de Janeiro o empresário Ademar Gonzaga lançou a revista Cinearte para dar apoio á sétima arte e nasceu o Cinédia, e veio a primeira produção, “Lábios sem Beijos” (1930).
  De uma revista surgiu o primeiro passo. Do período da Cinédia, na década de 1930, o país produziu 80 filmes de longa metragem. Na década seguinte por volta de 100 filmes. Hoje, o Brasil produz bem mais de 100 longas por ano.
   Em 1942 surgiu a Companhia Atlântida, com o objetivo de produzir filmes “cuja fita de estréia “Moleque Tião”, fez do artista  Grande Otelo um nome nacional “(1) Lembramos de Grande Otelo da escolinha do professor Raimundo do recém – falecido Chico Anísio da Rede Globo de Televisão.
  Com a Companhia Atlântida apareceria a Chanchada “que pela primeira vez transformou o filme brasileiro em produto comercial rentável. Ficou, entretanto, a semente do gênero comédia popular brasileira” (2).
   Na década de 1950 surgiu a Companhia Vera Cruz. Vem acompanhando o surto industrial de São Paulo. A Vera Cruz não teve muito fôlego financeiro; porém deu-nos as notáveis longas metragens “O Cangaceiro” e “Sinha Moça”. Neste pequeno período surgiram bons estúdios, visão de uma nova administração. Os tipos, os hábitos, e a maneira de falar dos rincões do Brasil e a produção de quase 300 filmes longas em quase uma década.
    Veja caro leitor! O paralelo que existe entre um veículo cultural numa cidade, como um cinema, na época o Cine Rosário, que com certeza naquelas décadas longínquas exibiu os grandes filmes produzidos no país que ajudaram na integração nacional.
  “Ganga Bruto”, “Caiçara”, o famoso “O Pagador de Promessas de Anselmo Duarte, Palma de Ouro em Cannes em 1962,” “O Assalto ao Trem Pagador” “Os Fuzis” de Nelson Xavier”, “Todas as Mulheres do Mundo” (3).Estes filmes já integrantes da era do “Cinema Novo” que já fizemos comentários na edição anterior , quando já referimos ao Cine Regina (1957-1982).
   O Cine Rosário já no final da década de 1970 mudou de nome: Passou a se chamar Cine Bristol. Integrou a mesma companhia distribuidora do famoso cinema de Ribeirão Preto, que teve uma sala com o mesmo nome.
   Da nossa geração, o Cine Rosário era considerado uma sala fora do padrão. A tela não passava de 80 polegadas; mas a projeção era excelente e com capacidade para 900 poltronas. Durou 43 anos(1938/82) quase o dobro de duração do Cine Regina, e um dos últimos filmes ali projetados: Gandi”, o grande líder religioso  e político da Índia, que conseguiu a independência ante ao domínio dos ingleses sem derramar uma gota de sangue.
   Enfim, o Cine Rosário foi um prédio de construção ousada. Havia as poltronas da platéia do andar inferior e também do andar superior. Existiu na base da tela um bom palco. Foi usado para shows dos principais cantores nacionais dos anos 1940 e 50 , como Francisco Alves, Silvio Caldas, Emilinha Borba, Nelson Gonçalves, além de apresentações de músicos da cidade, que aconteceram nos anos de 1960.

·        (1) (2) (3) O Cinema brasileiro, de Alex Viany