sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Ituverava e a Arte Sacra II


Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos não tem este nome á toa. Mais do que um grande símbolo de Ituverava, era o lugar para o qual convergia todo o sofrimento em busca de benções do céu. Eram os escravos que buscavam Deus entre aquelas quatro paredes, construídas entre 1830 e 1840.

Diante do sofrimento, surgiu a arte de uma época, que se eternizou pelos tempos. Eram tempos de comunicação difícil e numa vila, ainda de homens rudes. Tão rudes quanto áquelas paredes que traduzem a atmosfera da época. Era o final do século XIX.

Em Minas Gerais, as Igrejas estavam cobertas de ouro. Aqui cobertas pelo pó de café. Havia um pouco mais de 200 escravos por volta de 1885, e a cidade caminhava para a produção recorde de 15 mil pés formados, que começava a enriquecer a pobre Vila do Carmo da Franca.

Os primeiros vereadores procuram formular leis, para garantir renda para o erário público. Eram os impostos sobre a produção cafeeira; no entanto, a Vila do Carmo da Franca não seguiu os exemplos de tantas outras que vieram incorporar á força do poder das irmandades religiosas, que ganharam status na época, no auge da produção aurífera.

O período cafeeiro, na região, esteve totalmente diferenciado da época do ciclo do ouro. Não surgiu por aqui nenhuma irmandade religiosa que se erguesse, concomitantemente, ao poder do café. Ituverava e região não procuraram imitar as cidades mineiras, que tiveram irmandades famosas, tais as do Carmo, do Rosário, do Pilar, que demonstram ter força política e econômica.

Nossa Igreja do Rosário dos Homens Pretos, e sua imagem, tiveram instrumento apenas devotivo, o que é a grande finalidade de um templo. Aqui não se procurou espelhar na corte de Lisboa, tanto que presenciamos o seu estado de ruína em tempos passados. E apenas há quinze anos, em 1985 é que teve a recuperação.

O artista plástico Lúcio Adalberto Lima Machado reformou a igreja construída entre 1875 e 1879, edificada no Largo do Rosário, contra a tradição pelos escravos negros da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, e freqüentados pelos mesmos.

A reinauguração da igrejinha complemente restaurada ocorreu no dia 23de dezembro de 1985, com a presença do ex – governador paulista André Franco Montoro (1983-86).

A igrejinha tem um significado histórico muito importante para o Brasil, pois a partir do século XVIII a Igreja Católica permitiu que os escravos construíssem seus próprios templos, por sinal, os santos negros que fazem parte da hagiológica catolicista passaram a ser venerados pelos escravos, a exemplo Nossa Senhora Aparecida, Santa Ifigênia, São Benedito e Nossa Senhora do Rosário. Como é sabido de todos, a vida dos escravos teve sempre um alto caráter de santidade e devoção pelo sofrimento que passaram.

Os quadros pintados por Lúcio Adalberto são de figuras bíblicas, como o da Anunciação, Virgem das Dores, São João Batista na Prisão, Cristo Flagelado, Cristo na Sinagoga e Pietá.

Pietá é nome dado pelos italianos ás representações da Virgem chorando o Cristo; Anunciação, a mensagem do anjo Gabriel, que anunciou á Virgem o mistério da Encarnação;Sinagoga,Assembléia de Fiéis na antiga judaica. A Sinagoga parece ter tido origem, entre os judeus exilados da Babilônica, pela necessidade que sentiam, longe do templo; São João Batista preparou a chegada de Jesus Cristo – “Viu João a Jesus, que vinha para ele e disse:Eis aqui o Cordeiro de Deus - ; Cristo Flagelado , Pilatos, pois tomou então a Jesus, e o mandou açoitar , e os solados, tecendo de espinhos uma coroa,lhe puseram sobre a cabeça”. Essas são parte das explicações da arte sacra da Igreja Nossa Senhora do Rosário.

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