domingo, 10 de outubro de 2010

Um terremoto em Ituverava



Em 1896, a Vila do Carmo da Franca principiava crescer.

A iluminação pública já se fazia necessária, num lugarejo em que a cultura do café ostentava a opulência para os coronéis. Os dividendos eram empregados em suntuosas mansões da época, edificadas entre o Largo do Rosário e do novíssimo jardim, que ensaiavam o início de sua formação, que deram origem a Praça X de Março.

A cidade contava até com um bordel, que ficava um pouco abaixo da Praça Rui Barbosa. Esta nem existia na época, muito menos o projeto. Mas sempre havia um coronel de dotes com uma mulher da vida à espreita naquelas janelas. Sem exageros. Eram os costumes da época.

Nesse período foi entregue pela comissão de obras da vila, o prédio onde funcionou a Câmara Municipal e a cadeia. O que sobrou desses prédios foi um quadro de pintura, cuja arte é o símbolo de Ituverava do século XIX . Hoje esta obra encontra-se no Museu Histórico.

A população era pobre. Muito fácil de se provar. Apenas 21 pessoas, pela lei em vigor da época podiam votar e, escolher seus representantes. O cidadão para exercer o seu direito de cidadania tinha que ter uma renda igual ou superior a 200$000. Conclui-se apenas, os coronéis do café e alguns funcionários das esferas estadual e municipal podiam escolher seus representantes na Câmara.

O analfabetismo era gritante. Calcula-se que no ano da libertação dos escravos, - na cidade eram em 230 -, havia mais 500 jovens até 15 anos sem saber ler e escrever. Quase a totalidade da população dessa faixa de idade.

As condições de higiene eram precárias. Qualquer doença virava epidemia. A varíola em 1.888 generalizou com vulnerabilidade e rapidez, causando muitas mortes.

Esse era o quadro da nossa vila antes de chegar a luz.

Porém, em 1896, foi assinado um contrato de iluminação pública que contou com a participação do Cel. Augusto Simpliciano Sandoval. Eram trinta lampiões para iluminar a pequena vila. As fracas luzes originavam de mechas

embebidas em querosene.

Os bons ventos do progresso levaram os coronéis a uma grande empreitada ao construírem uma represa de usina elétrica, um pouco acima da cachoeira Salto Belo e o prédio da força ficou abaixo da queda d’água, onde hoje é o Palácio das Águas.

Em 1910, os coronéis venderam a usina para a Câmara Municipal. Foram oito anos de domínio público ituveravense, pois em 1918 foi novamente vendida, na ocasião, para a empresa Força-Luz de Ribeirão Preto. Logo a seguir a Companhia Paulista de Força e Luz, portanto, ficou com as ações e, até hoje, é a responsável pelos serviços do fornecimento de energia elétrica a cidade.

Ainda existe o concreto que formava a represa da Usina Elétrica de Ituverava, a alguns metros acima da cachoeira; foi o que sobrou dos primeiros tempos de cem anos de iluminação pública.

Ainda, porém, no tempo da Empresa de Força e Luz de Ribeirão Preto a usina de Ituverava deixou de servir energia à população. O fornecimento ficou por conta do rio Sapucaí em São Joaquim da Barra. São fatos históricos que devem ser rememorados.

Com a desativação da empresa de luz e eletricidade da cidade, o prédio da usina ficou abandonado em estado deplorável que, hoje nem mais existe como prova do nosso mais precário espírito de conservação.

Entretanto, enquanto existiu, ainda no início do século, muitas lendas povoaram a imaginação das pessoas com aquele prédio jogado às moscas em meio ao matagal, próximo a cachoeira Salto Belo.

Algumas das lendas que surgiram eram vaporosas. Mas uma percorreu os anos na crença inocente do povo, sempre existiam aqueles que acreditavam que naquele prédio quase em ruínas existia um baú cheio de ouro e pedras brilhantes.

Conta a tradição que entre os folguedos e o silêncio de uma noite, a cidade estremeceu em pânico com um pesado barulho. Um rapaz conhecido como Turquinho explodiu com dinamites o prédio da ex-empresa de eletricidade de Ituverava, na esperança e na ânsia de encontrar o velho baú, nem mesmo com o embate, o riquíssimo pote deu sinal das graças.

A explosão foi tão forte que muitos acreditavam ser um terremoto. A pequena cidade da época, naquele momento, ficou com todas as luzes acesas e ninguém sabia o que estava acontecendo.

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