domingo, 10 de outubro de 2010

Quando as mulheres não iam aos bares


Houve um tempo que as mulheres não iam aos bares. Bar era coisa de homem... Ou se elas iam era no máximo para ficar até as 22 horas. Elas não bebiam álcool. Tomavam apenas sorvete ou refrigerante. Isso por volta de uns 30 anos atrás.

Nem mesmo as “mulheres da vida” freqüentavam os bares da cidade. Elas tinham os seus próprios bares, os seus próprios botecos em casas de zona do meretrício. Eram os homens é que tinham que ir até lá. Porque lá é que as mulheres de Zona ganhavam o seu dinheiro.

E, assim, os bares da cidade, aquele tempo era lugar de homens, á medida que as horas iam avançando a moçada ia chegando.Iam chegando porque o footing da Praça X de Março havia acabado. As namoradas já estavam entregues em casa. Eles prometiam a elas que iam direitinho para casa. Naquele tempo não tinha celular, telefones fixos raros, qualquer mentira tinha perna longa. Eles, na verdade, iam para os bares.

A moçada ia chegando. Um chegava com um violão. Um outro com uma gaita o outro que chegava de carro já avisava que a vitrola á pilha com os discos de vinil, ou fita K-7 estavam á espera. E nessa não era nem meia – noite. E olha que hoje em dia muita gente sai á meia noite! Aliás, a última festa que aconteceu na cidade (a da fantasia) começou ás 1:30 da madrugada.

Os amigos unidos na mesa de um bar bebiam e cantavam. Lá pelas 2 horas da madrugada o bar fechava e a festa continuava nos bancos da praça, violão e sonata tocada “a pilha”. Numa outra noite havia outra escolha: fazer serenatas. Os jovens percorriam as ruas da cidade, de janela em janela. Subia – se nos muros e lá das alturas do muro tocava – se com harmonia e depois de um certo tempo a luz do quarto da moça era acesa, e em seguida apagada, depois novamente acesa. Era sinal que a jovem amada estava acompanhando as músicas da seresta.

De vez em quando havia algum pai bravo. Abria a porta da casa e expulsava os moços do alpendre, ou do muro, ou do pé da janela do quarto da moça. Porém, do outro lado acontecia o contrário, havia pais que convidavam os moços para entrarem e continuar a serenata na sala . A mãe servia alguma bebida acompanhada de bolachas e na despedida sempre á mesma música “Ronda” de Caetano Veloso e os versos românticos de Vinícius de Moraes.

Antes das quatro da manhã os moços já estávam em casa, com o espírito confortado, ao contrário de hoje em que as festas duram até 7 horas da manhã ou quando em quando, vemos as festas Rave que duram mais doze horas ou 24 horas, instigando a bebedeira infindável.

No dia seguinte, domingo á tarde nos bancos do jardim os comentários maiores eram as proezas dos jovens pelas serenatas; ou nos bailes da Associação Atlética Ituveravense.

Hoje, vemos que a serenata é coisa do passado. Não tem como os jovens fazerem serenatas, porque elas saem muito tarde de casa e muitas voltam para casa quando os passarinhos começam a cantar. Elas levam o mesmo tipo de vida dos homens. Elas lutaram para isso. Foi para isso que elas lutaram. Uma prova dessa igualdade, são as lanchonetes que nos dias de sábado vendem mais lanches a partir das 4 horas da madrugada. E as mesas estão de igual para igual com os homens.

Enfim, vemos que os jovens vivem a vida de hoje sem limites. Quando não é uma festa na cidade, é no rancho, é na área de lazer, é na chácara, ou sítio. Lugares que as autoridades não têm acesso; e sabe-se o que passa por lá?!... Eu não sei. Você também não!!! Às vezes 7 ou 9 meses depois sabe-se o que passou...

Serenata é uma palavra que vem de palavra serenar, sereno é o que era os tempos longínquos. Tudo era sereno, havia a paciência. A paciência para esperar o único baile que acontecia no mês, a paciência para juntar dinheiro e comprar a roupa sem ficar devendo. Não havia o descartável como hoje. Hoje, tudo é descartável; A namorada, a mulher, o homem, a geladeira, a televisão, as festas. Tudo está cosificado. Até as pessoas tornaram-se coisas. Hoje são tantas festas, que nem uma vai ficar para a lembrança porque elas são descartáveis como os nossos dias atuais.

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