O Cine Rosário, da época da Atlântida á Vera Cruz.
O Cine Rosário foi
construído por três irmãos libaneses: Jorge, Michel e Dib. Embora originados de
um país do Oriente Médio, tinham um sobrenome bem brasileiro: Nunes .Eram os
irmãos Nunes, que também foram os fundadores da rádio Cultura.
Em 1938 foi
inaugurado o Cine Rosário, onde hoje está a loja “A Calcevest” na Av.Dr.Soares
de Oliveira, próximo à esquina do pecado ou coração da cidade.
Jorge Nunes, um dos
fundadores, escreveu no jornal A Tribuna
de Ituverava em meados de 1978,
relembrando os tempos de então, 40 anos atrás.
“Em
Janeiro de 1938 inauguramos o Cine Rosário, nome este em homenagem ao Largo
Rosário onde foi fundada a cidade, com o filme “O General Morreu ao Amanhecer”,
com Gary Cooper. Com os melhores aparelhamentos, poltronas especiais e prédio
bem moderno, constituiu-se em o melhor cinema no interior das cidades da
categoria de Ituverava. A avenida ainda não tinha asfalto e nem calçamento, e
todas as tardes irrigávamos a avenida para diminuir um pouco a poeira, mas
mesmo assim toda vez que passava um carro (muito raro) a rapaziada do footing
tinha que parar de andar até a poeira desaparecer, e apesar destes inconvenientes,
tudo era divertido e sadio”.
Imagine! Se o
Sr.Jorge Nunes, hoje, falecido, pudesse retornar á vida, veria uma avenida
asfaltada, iluminada e moderna, com inúmeros carros e motos passando de um lado
para outro; porém uma cidade sem cinema.
Por outro lado, a
produção de filmes no Brasil na década de 1930 se arrastava. No Rio de Janeiro
o empresário Ademar Gonzaga lançou a revista Cinearte para dar apoio á sétima
arte e nasceu o Cinédia, e veio a primeira produção, “Lábios sem Beijos” (1930).
De uma revista
surgiu o primeiro passo. Do período da Cinédia, na década de 1930, o país
produziu 80 filmes de longa metragem. Na década seguinte por volta de 100
filmes. Hoje, o Brasil produz bem mais de 100 longas por ano.
Em 1942 surgiu a Companhia
Atlântida, com o objetivo de produzir filmes “cuja fita de estréia “Moleque
Tião”, fez do artista Grande Otelo um
nome nacional “(1) Lembramos de Grande Otelo da escolinha do professor Raimundo
do recém – falecido Chico Anísio da Rede Globo de Televisão.
Com a Companhia
Atlântida apareceria a Chanchada “que pela primeira vez transformou o filme
brasileiro em produto comercial rentável. Ficou, entretanto, a semente do
gênero comédia popular brasileira” (2).
Na década de 1950
surgiu a Companhia Vera Cruz. Vem acompanhando o surto industrial de São Paulo.
A Vera Cruz não teve muito fôlego financeiro; porém deu-nos as notáveis longas
metragens “O Cangaceiro” e “Sinha Moça”. Neste pequeno período surgiram bons
estúdios, visão de uma nova administração. Os tipos, os hábitos, e a maneira de
falar dos rincões do Brasil e a produção de quase 300 filmes longas em quase
uma década.
Veja caro leitor!
O paralelo que existe entre um veículo cultural numa cidade, como um cinema, na
época o Cine Rosário, que com certeza naquelas décadas longínquas exibiu os
grandes filmes produzidos no país que ajudaram na integração nacional.
“Ganga Bruto”,
“Caiçara”, o famoso “O Pagador de Promessas de Anselmo Duarte, Palma de Ouro em
Cannes em 1962,”
“O Assalto ao Trem Pagador” “Os Fuzis” de Nelson Xavier”, “Todas as Mulheres do
Mundo” (3).Estes filmes já integrantes da era do “Cinema Novo” que já fizemos
comentários na edição anterior , quando já referimos ao Cine Regina
(1957-1982).
O Cine Rosário já
no final da década de 1970 mudou de nome: Passou a se chamar Cine Bristol.
Integrou a mesma companhia distribuidora do famoso cinema de Ribeirão Preto,
que teve uma sala com o mesmo nome.
Da nossa geração, o
Cine Rosário era considerado uma sala fora do padrão. A tela não passava de 80 polegadas ; mas a
projeção era excelente e com capacidade para 900 poltronas. Durou 43 anos(1938/82)
quase o dobro de duração do Cine Regina, e um dos últimos filmes ali
projetados: Gandi”, o grande líder religioso
e político da Índia, que conseguiu a independência ante ao domínio dos ingleses
sem derramar uma gota de sangue.
Enfim, o Cine
Rosário foi um prédio de construção ousada. Havia as poltronas da platéia do
andar inferior e também do andar superior. Existiu na base da tela um bom palco.
Foi usado para shows dos principais cantores nacionais dos anos 1940 e 50 ,
como Francisco Alves, Silvio Caldas, Emilinha Borba, Nelson Gonçalves, além de
apresentações de músicos da cidade, que aconteceram nos anos de 1960.
·
(1)
(2) (3) O Cinema brasileiro, de Alex Viany
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